Durante a entrevista, foram abordados os principais temas atuais relacionados aos novos projetos, às articulações políticas e aos objetivos do vereador Daniel Monteiro durante seu mandato. Ele aproveitou a oportunidade para reforçar que mantém um bom relacionamento com o atual prefeito, Abílio Brunini, e que seu compromisso principal é com o povo cuiabano, estando sempre à disposição da população.
Embora tenha se mostrado crítico em algumas ocasiões, Daniel afirmou que não se considera um vereador de oposição, já que votou a favor de 11 dos 12 projetos enviados pelo Executivo. Ele destacou sua postura independente, enfatizando que seu mandato "não tem dono" e que foi eleito para defender os interesses da cidade.
Ao comentar sobre as falas polêmicas do vereador Ranalli contra a comunidade LGBTQIAPN+, Monteiro defendeu que é preciso separar manifestações culturais de conteúdos impróprios para crianças, condenando qualquer tentativa de associar diversidade sexual a condutas indevidas.
Em relação à gestão de Abílio nos primeiros 100 dias, Monteiro apontou dificuldades administrativas, especialmente na área da saúde, mas reconheceu o esforço do prefeito e sua boa intenção.
Sobre a Secretaria Municipal de Educação, demonstrou otimismo com a chegada do novo secretário, Amaury Monge Fernandes, elogiando sua capacidade de gestão mesmo com pouco tempo no cargo.
Monteiro também se posicionou contra a existência de mercadinhos dentro dos presídios, argumentando que o sistema penitenciário não deve ser espaço para comércio, e que o Estado tem condições de fornecer os itens necessários aos detentos.
Por fim, reforçou seu foco na educação pública de Cuiabá, criticando a má distribuição de recursos para a manutenção das escolas e propondo a criação de um cronograma eficiente de reformas, como forma de garantir estruturas adequadas e acolhedoras para os alunos — citando, como exemplo, a situação da escola municipal no bairro Jardim Vitória.
Centro Oeste Popular — O senhor tem tido um posicionamento bastante crítico na Câmara Municipal, sendo uma das poucas vozes que contestam o prefeito Abílio Brunini, que hoje conta com ampla maioria na Casa. O senhor se considera um vereador de oposição?
Daniel Monteiro — Não me considero de oposição, até porque, dos doze projetos que o prefeito enviou, votei a favor de onze. O único em que não votei foi porque não estava presente na sessão. Inclusive, comentei no início da legislatura, e até antes do mandato começar, que, nos seis primeiros meses, votaria a favor de tudo o que fosse positivo para a cidade. É impossível dizer que um parlamentar que vota com o Executivo seja de oposição. Agora, isso não significa que eu vá me omitir diante de erros. Fui eleito pelo povo cuiabano para defender Cuiabá, não um governo. Até porque meu partido, no primeiro turno das eleições, não estava aliado ao prefeito Abílio Brunini. Nosso relacionamento tem melhorado, mas minha independência é inegociável — meu mandato não tem dono.
Centro Oeste Popular — Recentemente, o vereador Ranalli se manifestou de forma polêmica em relação à comunidade LGBTQIAPN+, especialmente sobre eventos culturais que, segundo ele, não deveriam receber investimento público ou permitir a presença de crianças. Como o senhor avalia essas declarações? Trata-se de homofobia ou preocupação legítima com as crianças?
Daniel Monteiro — É fundamental separar as coisas. Precisamos distinguir o que são manifestações culturais e o que são exposições impróprias para crianças. O Estatuto da Criança e do Adolescente é claro ao proibir que crianças sejam expostas a cenas de lascívia, sexualização ou conteúdo inadequado. No entanto, não podemos confundir isso com os movimentos das minorias, com a luta da comunidade LGBTQIAPN+. Esse é um movimento legítimo de expressão e identidade, e não há nada de errado com nenhuma orientação sexual. Do meu ponto de vista, precisamos separar o joio do trigo. O Estado tem um papel fundamental no fomento à cultura, e, se começarmos a classificar o que é ou não cultura com base em moralismo, podemos acabar promovendo censura.
Centro Oeste Popular — O senhor tem se mostrado crítico à atual gestão municipal. Qual é a sua avaliação dos primeiros 100 dias da administração do prefeito Abílio?
Daniel Monteiro — Vejo dificuldades claras, principalmente na área de gestão. Isso é natural no início de mandato, especialmente para quem nunca ocupou cargos no Executivo. O prefeito foi vereador, deputado federal, mas, até onde sei, nunca administrou uma empresa com equipe, orçamento e planejamento. Gestão exige saber montar um organograma, controlar processos, estabelecer metas. Isso não se aprende da noite para o dia. Mas, apesar das dificuldades, vejo boa vontade — e isso já é um ponto positivo.
Centro Oeste Popular — O senhor tem uma relação próxima com o grupo político do secretário estadual de Educação, Alan Porto. Como avalia a chegada de Amaury Monge Fernandes à Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá? Já foi possível perceber alguma mudança?
Daniel Monteiro — Ainda é cedo para sentir qualquer mudança, até porque o secretário Amaury ficou apenas uma semana no cargo antes de viajar, o que já estava previsto. Mas já senti que há perspectiva de melhora. Conversei com ele no quinto dia de trabalho e ele já havia identificado um problema de estrutura interna: a separação entre quem cuida da grade curricular e quem cuida do pedagógico. Isso mostra capacidade de diagnóstico e, principalmente, de gestão. Tenho confiança de que haverá melhorias, mas ainda não deu tempo para resultados concretos.
Centro Oeste Popular — A polêmica sobre os mercadinhos em presídios voltou ao debate, com votação recente na Assembleia Legislativa contrária ao projeto que visava fechar essas unidades. Qual sua posição sobre esse tema?
Daniel Monteiro — Como advogado criminalista e cidadão, sou totalmente contra mercadinhos dentro dos presídios. Cadeia não é lugar de comércio, é lugar de cumprimento de pena. A Lei de Execução Penal (LEP) é clara: só em casos de omissão do Estado é que esses comércios podem existir para suprir necessidades básicas. No entanto, Mato Grosso é um estado fiscalmente organizado e tem todas as condições de fornecer esses produtos. Portanto, os mercadinhos perdem a justificativa. Sobre a votação, acredito que todos os parlamentares têm o direito de votar dentro das regras regimentais, mas, pessoalmente, sou contra o voto secreto — penso que o voto deve ser público e transparente.
Centro Oeste Popular — Seu mandato tem foco na educação. Há denúncias sobre a situação precária de escolas, como uma, no bairro Jardim Vitória, com telhado, paredes e muros danificados. Que medidas devem ser tomadas para resolver esse tipo de problema?
Daniel Monteiro — Quando falamos em educação, falamos também da estrutura física das escolas, que influencia diretamente no aprendizado e na autoestima dos alunos. É fundamental que as crianças e jovens se sintam bem ao entrar na escola. Vejo que o principal problema hoje é a má distribuição de recursos para manutenção das unidades. A Secretaria não consegue, sozinha, atender todas as demandas de reparos pequenos e médios. Por isso, defendo o envio de recursos diretamente às escolas e a criação de um cronograma de reformas. Isso evitaria atrasos, como os que ocorreram no início do ano letivo.